25 set

Meu último adeus – Lethícia Lobato

Aviso: O conto a seguir é totalmente fruto da minha imaginação. Nenhum fato aqui relatado deve ser usado para justificar casos que acontecem na vida real. Muito menos é meu objetivo desmerecer qualquer outra crença religiosa, pois todas devem ser respeitas. Qualquer semelhança não passa de mera coincidência.

*****

Uma vez, falaram para ela que a morte era o fim de tudo, que depois de dizer adeus a vida, nada mais sobrava, e foi nisso que ela acreditou durante toda sua existência. Ela viveu cada dia como se fosse o último, amou a esposa incondicionalmente, vivia para aquela que amava, se apegou tanto que o seu último pensamento, segundos antes de morrer, foi exclusivamente sua amada Amanda.

Ela não sabia onde estava. Olhou ao redor e viu que também outras pessoas pareciam tão perdidas quanto ela. Para falar a verdade, ela não sabia nem o seu próprio nome ou quem era e muito menos o que estava fazendo ali.

“Amanda…” — Essa era a única coisa que estava em sua mente, a única lembrança que parecia ocupar um lugar em sua memória.

— Você demorou mais do que eu imaginava.

Ela se assustou com o sussurro atrás de si; rapidamente se virou e olhou para quem era o dono daquela voz.

— Amanda… — Foi a única coisa que ela conseguiu dizer.

A criatura a sua frente deu um sorriso de deboche e balançou a cabeça negativamente. Ele já tinha visto aquilo milhares de vezes, praticamente era tudo do mesmo jeito.

“As pessoas não mudam…” — Ele pensou.
— Camila, esse era o seu nome em vida. Amanda era sua esposa. — E onde ela está?
— A essa hora, deve está chorando pela sua morte.

A mulher arregalou os olhos sem conseguir disfarçar sua surpresa. Mesmo não lembrando quem era, ainda sabia o que significava vida e morte. Definitivamente, não poderia ter tido outra reação que não fosse a de surpresa, com uma grande dose de medo por saber que estava morta.

— Como eu posso estar morta? Isso não é possível.

— Você morreu horas atrás. Se envolveu em um acidente com sua moto. – A criatura dizia sem parecer se abalar.

— Eu estava indo para casa encontrar Amanda…
— Ela foi a sua última lembrança, da pessoa que mais amava.
— Preciso vê-la! — Camila disse se aproximando da criatura, mas ela se afastou.
— Você não pode. Está morta, não pertence mais a esse mundo.
Camila olhou para o lado e viu algo assustadoramente inacreditável. Deitado em uma mesa de necrotério, estava seu próprio corpo sem vida. Aquela era a maior prova de que o que ouvia daquele ser estranho era verdade. Ela estava morta, ela que gritava não ter medo da morte, mas no momento que iria receber o seu be o eterno, o negou até o último segundo.

— Preciso achar Amanda. — Nem mesmo a constatação de sua morte foi o sufi- ciente para que esquecesse sua amada Amanda.

Sem ouvir mais nada ou ninguém, Camila saiu “correndo” e atravessou a porta que dividia o necrotério de um corredor. Foi isso que a fez parar; se assustou com o fato de conseguir atravessa algo sólido. Então, fantasmas realmente atravessavam as coisas.

— Normalmente quem morre perde essas lembranças, mas você ainda sabe que um corpo sólido não atravessa matéria.

Camila olhou para a criatura que também havia atravessado e falava tranquilamente.

— Quem é você? — Perguntou.
— Eu sou o que aqueles em vida chamam de “anjo”.
— Anjos não deveriam ter asas? — Ela questionou, curiosa.
— Vejo que suas memórias ainda estão bem vivas.
Camila ficou analisando a criatura, que se afastou um pouco dela para observar o corredor em que nesse momento passava uma outra criatura que parecia coberta por uma nuvem negra — era algo que se assemelhava a um vulto.

— O que é aquilo?! — Ela deu um grito fazendo com que o vulto parasse de andar e virasse em sua direção.

O anjo que estava com ela se colocou a sua frente fazendo com que o vulto parasse e logo em seguida tomasse novamente a direção que estava caminhando.

Camila ficou aliviada, sentia que estava sendo transportada para um filme de terror. Desejava com todas as suas forças que aquilo fosse um pesadelo e pedia para acordar a cada segundo que passava.

Continua em … Antologia Criaturas da Noite

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