07 mar

Uma manhã, uma noite – Débora Gomes

Eu estava um lixo, um farrapo humano, uma completa bosta há quase dois dias. Sofia, a minha Sofia, me traiu, em cima da cama que dividimos por oito anos. Eu estava sempre viajando pela empresa e o clichê de sempre aconteceu, consegui adiantar a viagem em algumas horas e quando entro dentro de minha própria casa, escuto gemidos pela sala, não consigo identificar quem ou o que era, mas fiquei preocupada.

Larguei a mala onde estava e atravessei o corredor rumo ao meu quarto, já tremia dos pés a cabeça e quando cheguei à porta, dei de cara com a cena mais aterradora de todas. Um homem estava por cima de Sofia, cobertos apenas pelo lençol da cintura para baixo. Não consegui ver mais nada, fiquei tão anestesiada, só consegui ir para a sala, pegar minha mala e sair de casa, queria sumir, me enfiar num buraco, ir para o inferno, qualquer coisa, menos estar ali. Eu havia chegado de taxi, mas peguei meu carro e fiquei sem rumo durante meia hora. Até parar na beira da estrada e ficar ali, parada. Me olhei no retrovisor do carro, minha cara incrédula, os olhos úmidos que não derrubavam lágrimas, porque ainda não conseguia formular o que estava acontecendo.Quase no automático, dirigi meu carro até o litoral, nenhum motivo específico, quando vi estava lá. Por que? Por que? Parecia tudo estar tão bem, ok que eu viajava muito, ficava tempo demais ausente, talvez fosse isso, mas Sofia poderia muito bem ter exposto, poderíamos ter conversado, poderíamos ter feito qualquer coisa, qualquer coisa. Um homem ainda por cima, para me ferir ainda mais o orgulho, tá eu sabia que Sofia se relacionava com homens antes de mim, mas ainda assim? Precisava todo esse amontoado de ofensas? Era como me dar 75 facadas quando já estava morta, desnecessário. Sempre fiz tudo, absolutamente tudo por ela, o que faltou? Por que não me disse Sofia? Por quê?

    Entrei no primeiro hotel que encontrei, como cheguei já era noite, acabei caindo exausta da segunda viagem feita naquele dia e adormeci, um sono estranho e leve, a todo momento acordava, me lembrando porque estava ali.

Acordei no meio da manhã e fui para o bar do hotel, o meu dia foi preenchido por algumas garrafas de whisky. Eu não atendia telefone e até o desliguei, não queria ser encontrada por ninguém e pouco me importava o fato de que minha irmã, por exemplo, poderia estar preocupada comigo. Minha irmã, claro, porque Sofia, essa não estaria, essa vagabunda não estaria preocupada comigo.

O atendente do bar já havia mudado pela segunda vez no início daquela noite, e tal qual o primeiro, vez ou outra colocava os olhos em mim com ar curioso. Provavelmente, se perguntando até quando eu ficaria ali secando seguidas garrafas de whisky, mas nenhum se atreveu a dizer qualquer coisa, antes mesmo de começar a beber eu deixei uma quantia em dinheiro razoável em minha conta, justamente para não ser incomodada.

Virei mais um copo, a cada copo eu tentava enterrar mais a lembrança tenebrosa da manhã do dia anterior, jogava sinuca em uma mesa que tinha no bar com um hóspede qualquer que havia chegado há poucos minutos. Até ofereci um pouco do meu whisky, a garrafa estava em cima de uma pequena mesa ao lado da mesa de sinuca. Devido ao dia escurecendo, as luzes do bar foram acesas, de qualquer forma, aquele bar tinha uma sombra, não era totalmente claro, mesmo com todas as luzes acesas. Deixei meu copo na beirada da mesa enquanto jogava. Meu oponente era bom, um senhor que me lançava diversos olhares compadecidos, chegou a me perguntar algumas vezes se eu estava bem.

-Sim – respondi limpando um filete do líquido marrom que escorreu pelo meu queixo após mais um copo virado e voltei a jogar. Embora meu estado etílico, eu ainda tinha plena consciência, inclusive do que a vadia da Sofia havia feito comigo e talvez fosse essa consciência que me fazia beber mais. O jogo estava acabando, meu oponente vencia por uma bola de diferença quando vi aquela moça entrar no bar, entrou correndo e sentou no balcão. Não tinha ideia de que horas eram, mas só havia um rapaz no balcão, eu, meu oponente e agora aquela moça. Percebi que ela chorava e o atendente no balcão até tentou consolá-la de alguma forma. Pediu uma bebida que eu não consegui visualizar com precisão o que era, devia estar uns dez metros dela. Era uma jovem bonita, uns dez anos a menos do que eu. Meu oponente me venceu sem eu nem perceber e se despediu ainda me lançando olhares de piedade. Eu estava na terceira ou quarta garrafa de Black Label, não precisava da pena dele.

Falando em minha garrafa, a peguei junto com meu copo, estava na metade. O balcão do bar era em L, a bela jovem estava sentada em um canto e eu fui para outro, concentrada em sua própria tristeza, ela nem me notou sentar do outro lado e as luzes do bar também não me favoreciam, fiquei quase que completamente nas sombras entre todas aquelas luzes.

Ela chorava agora mais discretamente, secava cada lágrima que derramava com as costas da mão e percebi que ela pedia doses de tequila, o moço que também estava no balcão foi embora, só restou nós duas e o atendente. Continuava a bebericar meu whisky sem conseguir desviar os olhos dela, por algum motivo ela me hipnotizava, a beleza contava muito, claro, mas era algo mais, talvez a também tristeza dela. Será que ela tinha uma Sofia? E também descambou para aquele hotel por apenas ser a primeira opção que apareceu na frente? E agora bebia pra tentar esquecer alguma visão trágica que seus olhos se obrigaram a presenciar, sem que houvesse uma culpa, ou um merecimento, será que ela também se perguntava do porquê de tal castigo? Será que o coração dela estava também completamente dilacerado? Será que perdeu a vontade de viver?

Ficaria sem saber de nada disso, pois ela pediu a conta ao atendente e ele logo trouxe uma máquina para passar cartão, conforme ela mesma solicitou. Mas minha mais nova amiga, era demasiada azarada, o cartão não passou e ela tentou revirar a bolsa em busca de uma quantia em dinheiro que, no fundo, ela sabia que não ia encontrar. E voltou a chorar.

-Me desculpa moço, eu posso passar aqui amanhã? Prometo que venho cedo…

Embora ele estivesse praticamente de costas para mim, eu pude imaginar exatamente a cara que o atendente fez, por ela ser bonita, era uma mistura de compreensão com dó, mas não poderia deixar de fazer seu trabalho. Antes que ele pudesse sentenciar a pena da má pagadora, me intrometi.

-Pode colocar na minha conta.

Ele se virou para mim, apenas me olhando, ela se assustou, porque ainda não havia percebido minha insignificante presença, se nem Sofia percebia mais, não poderia exigir isso de uma desconhecida. Levantei do meu banco, carregando minha garrafa quase vazia junto com meu copo. Me arrastei até o banco ao seu lado, onde sentei. Tanto ela quanto o atendente me olhavam curiosos.

-Mas você vai precisar tomar mais uma dose comigo – sorri, eu deveria estar toda torta, não sei nem como aguentava andar ainda.

Ela também sorriu, pela primeira vez naquela noite, linda, até me lembrou Sofia quanto nos conhecemos…

-Tudo bem – Respondeu em um sussurro, fiz um gesto para o atendente.

-Pode colocar na minha conta e trás mais uma dose de Tequila – ele acenou concordando e saiu buscar a garrafa de Tequila.

-Obrigada – ela sorriu novamente, fungando o nariz e terminando de secar as lágrimas, então secou uma das mãos na barra da própria saia e a estendeu para mim.

-Carla, como se chama?

Apertei sua mão de unhas bem feitas, logo reparei.

-Vilma – claro que o tanto de álcool que eu já havia ingerido colaborava, mas Carla era uma das garotas mais lindas que eu havia visto na vida. O atendente encheu mais um pequeno copo com a dose de Tequila, pedi para ele um copo igual, eu não iria misturar as bebidas, mas poderíamos brindar igualmente, ele me atendeu. Enchi o copinho com whisky e a convidei para o brinde.

-Á nossas fossas – brindamos e bebemos em um gole só. Mas logo que deixamos os copos sobre o balcão, Carla voltou a chorar.

-Ei -me inclinei para a frente e segurei seu rosto, ela estava tão frágil, mais do que eu talvez – O que aconteceu?

E então Carla desabafou, não tenho a menor ideia de quanto tempo ela ficou falando sobre o pai internado em um hospital próximo do hotel e que mesmo em momentos difíceis, talvez os últimos de sua vida, ele não a perdoava, não conseguia mais tratá-la como filha. O por que? Eu preferia não perguntar.

-Se eu não consigo o respeito dele nem em seus últimos instantes, não vou conseguir nunca – concluiu ela com lágrimas nos olhos novamente, a garrafa de tequila, bem como a minha de whisky estava sobre o balcão para facilitar, o atendente devia estar ficando bêbado só de nos ver. E de fato, assim como eu, ela desaguou no hotel por ser a primeira parada depois do hospital que ela encontrou.

-Eu precisava beber – Me dizia e então me perguntou – E você? O que você faz aqui? Acho que nunca vi alguém com os olhos tão vermelhos – Rimos e nisso o atendente não resistiu e se meteu na conversa.

-Eu não sei como ela ainda está viva.

Rimos mais, até por ele parecer mesmo preocupado.

-Peguei minha mulher na cama com um homem, depois de oito anos juntas.

O atendente novamente se meteu, dessa vez fazendo um grunhido como se estivesse abismado, chocado, o ignoramos. Carla ficou estática me olhando.

-Nossa, eu lamento muito, nem imagino como deva ser algo assim.

Dei de ombros, não queria falar sobre isso, queria beber e ficar o resto da noite olhando para Carla. Carlinda como a chamei algumas vezes, enquanto eu começava mais uma garrafa de whisky e ela terminava a sua de tequila. Por tempo indeterminado ficamos ali, conversando e rindo de qualquer coisa, algumas vezes de nossa própria desgraça, era mesmo dez anos mais nova do que eu e estava solteira. À medida que a tequila entrava nela, alguns olhares de pura luxúria saiam para mim, eu percebi, estava casada há oito anos, mas quando solteira fiz de um tudo e sabia muito bem quando outra mulher me queria e era exatamente o caso naquele balcão. Eu já não pensava em Sofia, ao menos não com a mágoa de horas atrás, eu precisava era esquecer Sofia e Carla era um achado, caída do céu.

-Não, eu não duvido mais de você – Carla dizia completamente embriagada e divertida, parecia outra, bem diferente daquela garota chorosa que entrou naquele bar, eu estava no meu décimo, vigésimo, ou trigésimo shot de whisky, os primeiros Carla duvidou de que eu era capaz, mas agora ela só ria para cada um que eu consegui entornar e não caía dura no chão, até amarrou um lenço dela na minha cabeça e nem com a pressão eu era capaz de parar – Doida, você é completamente doida – ela ria e ria. Era tão gostoso fazer uma mulher rir assim.

Olhei bem para ela, talvez fosse a bebida, talvez fosse só o efeito dela em mim, mas eu estava excitada e com ganas daquela garota, com certeza meu olhar não conseguia disfarçar e ela não desviava dele.

-É –  comecei olhando fundo naqueles jovens olhos – Acho que tô ficando doida mesmo… – terminei sussurrando.

Ela sorriu, levantou do seu banco e veio até mim, segurou meu rosto com as duas mãos, também me olhou fundo, os olhos baixos pela embriaguez tal qual os meus. Trocamos um beijo demorado, lento, talvez lento pelo estado de nossos corpos, mas era um beijo gostoso, cheio de vontade e que também descarregava nossas frustrações. Foram longos minutos sem nos soltarmos. Abraçava-a forte pela cintura, ela bagunçava meus cabelos e amarrotava minha blusa. Eu com certeza acordaria com uma ressaca terrível, mas não com amnésia, ao menos não daquele beijo. Um beijo tão intenso, que talvez tenha trocado poucas vezes com Sofia. Esvaziei minha cabeça dela, enquanto meu pescoço virava para melhor saborear a boca daquela garota.

Quando finalmente nos soltamos, sorrimos e rimos uma para a outra. Não sei se o atendente presenciou aquilo, provavelmente sim e foi ele que nos despertou daquele torpor.

-Meninas – ele passou a mão pela cabeça – Preciso ir no banheiro e como vocês não saem daqui – falava amenamente – Fiquem de olho, tá bom? Vou demorar alguns minutos, se comportem – piscou e saiu para onde eu não poderia mais alcançá-lo com a visão.

Voltei a encarar Carla, ela me olhava absolutamente desejosa, parecia pedir por uma transa e eu não seria mal-educada em negar, ambas precisávamos. De canto de olho, avistei a mesa de sinuca e ela pareceu acompanhar meu raciocínio.

Me levantei, ela me puxou para ela e nos beijamos novamente, agora era um beijo mais urgente, uma coisa mais carnal, o prenúncio do que viria a seguir. Cambaleantes e esbarrando em algumas mesas, chegamos a mesa de sinuca, eu não estava pensando se alguém poderia entrar ali, se o atendente poderia voltar, se o gerente do hotel brotaria naquele chão. Eu não pensava em nada e duvidava muito que ela também estivesse pensando, coloquei-a sobre a mesa sem desgrudar de sua boca e me acomodei no meio de suas pernas. O beijo dela era muito gostoso, talvez até mais do que de Sofia. Bem feito para ela, se tivesse conversado comigo, talvez até a perdoaria, mas preferiu agir em minhas costas me dando a oportunidade de cruzar com Carlinda…

Beijei seu pescoço, enquanto acariciava as coxas por baixo da saia, desci pelo colo, por cima de sua camisa mesmo, mas meu objetivo era claro e ela já sabia e inclusive empurrava minha cabeça ainda amarrada pelo seu lenço. Desci e me ajoelhei no chão, ergui toda a sua saia e com alguma dificuldade, tirei sua calcinha, não precisava de preliminares naquela circunstância, ela me entenderia. Avancei sobre o grelo grande que eu via inchando na minha frente no meio dos vários pêlos negros. Chupei com gosto, com vontade, sugava e passava a língua por todo seu sexo, ela se inclinou na mesa, apoiando-se com as mãos, para que eu pudesse penetrá-la com a boca mesmo e eu não negaria o pedido de uma jovem tão linda e sedenta por carinhos.

Carla não demorou para gozar, provavelmente já estava fantasiando aquilo há largos minutos, ou horas, mais do que eu quando fiquei a desejando no canto escuro do bar. Me levantei e beijei sua boca para que ela se recuperasse e pudéssemos continuar em meu quarto. Não vi se o atendente do bar já havia voltado e presenciado alguma coisa e enquanto esperava o elevador no hall de entrada, com a boca grudada na nuca de Carla, com ela de costas para mim, também não percebi se havia ali algum porteiro noturno que pudesse nos ver. Mas achei que sim.

No elevador ela apoiava uma perna em minha cintura e se esfregava sem timidez, enquanto nos beijávamos, por pouco não perdemos ao andar. Passamos o resto da noite e madrugada adentro aproveitando a enorme cama do quarto. Carla gostava de repetir meu nome e eu gostava de gritar qualquer coisa cada vez que um dedo dela entrava em mim. Às vezes mais de um. Não importava se era no meio da cama, na cabeceira ou nos pés. O importante era estarmos uma em cima da outra, não importando a ordem.

Só conseguimos dormir com o dia amanhecendo e quando acordei, provavelmente já era meio da tarde, incrivelmente a cabeça não pesava tanto quanto o esperado, a ressaca era bem menos monstruosa do que poderia supor. Mas acordei sozinha, na cama só havia eu, acompanhada apenas dos pensamentos e lembranças daquela garota deliciosa. Quando fui me levantar, me dei conta que não estava assim tão sozinha, havia um bilhete.

“Meu telefone, apenas no caso de você e sua mulher não se entenderem mais, tomei a liberdade de pegar seu número na portaria. Obrigada pelo, literalmente, consolo da noite rs. Beijos”

Eu ri lendo o bilhete e me joguei na cama, estava feliz, estava inacreditavelmente feliz e teria que agradecer a Sofia por isso, no fim das contas, teria que dizer muito obrigada pela traição monstruosa, mas que me deu o melhor desfecho que poderia querer.

Me senti forte o suficiente para voltar em casa e enfrentar o que tivesse que enfrentar. A conta do hotel foi estratosférica, mas valeu a pena, tudo valia a pena e eu era só sorrisos.

Quando cheguei em minha casa, que talvez já não seria mais minha, era noite e antes de entrar eu percebi que havia mais pessoas lá dentro. Respirei fundo e abri a porta da sala, Sofia, Juliana minha irmã e até uma vizinha estavam sentadas em meu sofá. Todas se levantaram quando entrei e Sofia correu em minha direção. Me enfiou a mão na cara quando se aproximou, fiquei estupefata, mas foi ela quem gritou.

-Que cheiro fedorento de whisky é esse? Onde você estava que quase matou todo mundo aqui? – gritava histérica. Ela nem desconfiava? Essa ordinária…

-Mas que merda é essa? – gritei de volta – Fale baixo comigo – percebi que a vizinha e Juliana se aproximavam – Você não desconfia de nada, sua vagabunda?

Sofia ficou boquiaberta e arregalou os olhos, eu massageava meu próprio rosto após o tapa que foi com vontade.

-Do que você me chamou? Você tá doida?

-Eu vi você – gritei – Vi você com outro homem na nossa cama. Nossa cama – repeti e agora estava triste de novo, senti lágrimas subirem em meus olhos.

-Ai, não… – ouvi Juliana gemer atrás de Sofia – Não acredito nisso.

-Olha o que você fez, sua doida – Sofia disse raivosa, se dirigindo a minha irmã. Franzi o cenho sem entender nada.

-Fez o quê? – perguntei irritada e sem paciência.

Sofia se voltou para mim, estava com tanta raiva quanto eu.

-O que você viu sua louca estúpida? – nitidamente, ela não percebia as palavras que dizia, mas eu estava ficando com mais ódio ainda, ela faz a merda toda e eu que sou xingada.

Respirei fundo e engoli o orgulho.

-Tinha um homem em cima de você na nossa cama, quando cheguei nessa casa há dois dias atrás. – engoli o nó na garganta. A vizinha só observava sem acreditar no que via.

Novamente Sofia se voltou para Juliana atrás dela, que a essas alturas estava com as mãos no rosto.

-Sua idiota, eu sabia que era isso, sua idiota.

Eu já nem sabia mais quem Sofia chamava de idiota. Juliana se aproximou de mim com cara de cachorro sem dono. Eu estava com medo do que ela iria me contar, muito medo, a essas alturas eu estava preferindo ter sido traída.

-Era eu maninha, era eu quem estava na sua cama. Me perdoa por favor. Eu tava aqui fazendo companhia pra Sofia – ela estava agoniada e eu também estava ficando, comecei a suar e provavelmente suava whisky – Lembra que tinha um pedreiro fazendo reparos aqui? Então, a Sofia saiu de manhã e…. me desculpa ter usado sua cama e causado toda essa confusão…

Juliana pegava em minhas mãos e Sofia me olhava e olhava para ela nervosa.

-Isso não pode ser verdade – disse mais para mim mesma me lembrando de Carlinda.

-Você é doida Vilma? Doida? Como você acha que eu ia fazer um negócio desses? E como você não me liga? Não me dá sinal nenhum de vida e me deixa morrendo aqui? Como você achou que era eu com aquele homem? – gritou.

Me lembrando bem agora, eu realmente só tinha visto o homem em cima, eu não fiquei olhando muito, eu quase morri com aquela cena horrorosa acontecendo na minha cama. Se aquilo tudo era um pesadelo, eu queria acordar agora.

Simplesmente não sabia o que dizer e nem o que pensar. Meu celular tocou no meu bolso, eu o liguei assim que estacionei o carro em casa, apenas com o objetivo de falar com Carla quando esclarecesse as coisas com Sofia. O tirei do bolso e vi o nome do visor, era ela, era Carla. Sofia também olhou para meu celular e me encarou, quase ameaçadora.

-O que você fez, dona Vilma?

Olhei para ela e de novo para meu celular. E agora, o que eu faria?

8 thoughts on “Uma manhã, uma noite – Débora Gomes

  1. Oi, td bem? Seria cômico se não fosse muito, mas muito trágico. Vai continuar? Eu adorei a ironia do desfecho do teu texto e, nossa, como Vilma vai se sair dessa? Até eu fiquei torcendo pra ela ter sido traída. Rsrsrs. No direito temos uma coisa chamada erro de tipo que é a falsa representação da realidade que leva alguém a cometer um delito. O mesmo aconteceu com Vilma, por uma falsa percepção da realidade, que era possível, ela fez o que fez. Será que essa cola? Rsrsrs. Parabéns, viu?

    • Oi Ana, a continuação agora depende da nossa imaginação hahahahaha. Vilma vai ter que se virar nos trinta rs. Muito obrigada, que bom que gostou

  2. Texto incrível. Vou não consegue largar de ler nem um minuto, entra dentro da história mesmo. Lindas cenas e que final! Fica com gostinho de quero mais. Amei.

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